quinta-feira, 11 de junho de 2009

Brasil emprestará US$ 10 bilhões e passará a ser credor do FMI

Por meio de compra de bônus de dívida, pela primeira vez na história, País vai injetar recursos no Fundo

Fabio Graner, Renata Veríssimo e BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem um empréstimo de US$ 10 bilhões do Brasil para o Fundo Monetário Internacional (FMI). Será a primeira vez na história em que será realizada uma operação dessa natureza. Com o empréstimo, o Brasil passará à condição de credor do Fundo, que fará uma emissão de bônus (títulos de dívida) que serão adquiridos pelo País. O montante de US$ 10 bilhões será expresso nos papéis em Direitos Especiais de Saque (DES), a moeda com que trabalha o FMI.

Mantega explicou que o aporte será realizado assim que a diretoria do Fundo concluir a emissão do bônus, que será adquirido não só pelo Brasil mas também pela China (US$ 50 bilhões), pela Rússia (US$ 10 bilhões) e pela Índia, que ainda não anunciou o valor do aporte. Ele destacou que, dessa forma, os Brics - como são chamados os quatro países emergentes - vão colaborar para recuperar os países mais atingidos pela crise. O dinheiro faz parte de um conjunto de US$ 500 bilhões que os cotistas do Fundo, incluindo países desenvolvidos, como EUA e Japão, vão aportar na instituição.

Segundo o ministro, à medida que os países vão se recuperando, os recursos vão estimular a retomada do comércio internacional e fazer com que a economia mundial saia mais rapidamente da crise.

Ele explicou que a emissão do bônus é uma forma de aplicação financeira dos recursos das reservas internacionais brasileiras. A maior parte dessa reserva está aplicada em títulos do Tesouro americano. E o restante está alocado em outras aplicações "sólidas", como esta que será feita com o FMI.

"A decisão de onde vão sair os recursos é do Banco Central, que é quem administra as reservas", disse Mantega destacando que o rendimento desses bônus do FMI ainda não está definido, mas não deve ser muito diferente dos cobrados nos títulos do Tesouro americano. "Não vamos esperar um grande rendimento porque senão o FMI teria de repassar esse custo para os países que tomarem dinheiro emprestado."

O ministro disse ainda que esta não é uma ação para enfraquecer o dólar, mas representa um reconhecimento da importância de outros ativos nas transações internacionais. "Não nos interessa enfraquecer o dólar porque isso significa valorização do real, o que prejudica as exportações", disse Mantega. O objetivo, segundo ele, é fortalecer os Direitos Especiais de Saque do FMI.

O ministro lembrou que até poucos anos atrás, era o País que recorria à instituição. "O Brasil está encontrando condições de solidez para emprestar ao FMI. No passado, era o contrário", destacou. Ele salientou que o País hoje tem fluxo de capital positivo e reservas internacionais elevadas.

Além dos US$ 10 bilhões anunciados ontem por Mantega, o Brasil já havia colocado à disposição do FMI, na reunião de abril do G-20 (as 20 economias mais ricas do mundo) cerca de US$ 4,5 bilhões. Esse dinheiro, no entanto, só será repassado caso a instituição considere necessário e não será feito por meio de aquisição de bônus.

Mantega lembrou que esses recursos que estão sendo colocados agora na instituição não mudam a participação do Brasil no fundo, cujo processo de revisão está sendo previsto para ser concluído em janeiro de 2011. O Brasil quer maior participação nas cotas do FMI para ter mais influência nas decisões do organismo.

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